quinta-feira, 10 de maio de 2007

Doodles - Estrutura I, II, III








Título - Doodles - Estrutura I, II, III
Autor - Ana Neves
Data - 2003/2004
Técnica - Instalação
Dimensões - variáveis


Comecei por fazer uma recolha de doodles meus e de outros que depois foram reunidos constituindo um todo. Os doodles estavam recortados numa forma específica que pretendia remeter para a função terapêutica deste desenho que alivia a tensão dos momentos de tédio. A forma escolhida pretendia lembrar cápsulas medicinais. Os doodles encontravam-se dentro do contorno de uma figura que falava ao telefone e desenhava ( estrutura I) ou de alguém que desenhava numa postura um tanto desanimada ( estrutura II e estrutura III).

terça-feira, 8 de maio de 2007

Cena de Parede (work in progress)







Título - Cena de Parede
Autor - Ana Neves
Técnica - Colagem
Dimensões - Variáveis
Data - 2007


A minha intenção foi transportar para o espaço exterior do meio urbano um material (papel de parede) usualmente associado a uma esfera privada e interior. A utilização deste material é, simultaneamente, um acto crítico às manifestações artísticas meramente decorativas. As formas pretendem remeter para uma cena a ocorrer no interior de uma casa, existindo também uma referência ao voyeurismo.

domingo, 6 de maio de 2007

Ideia, desmaterialização, repetição, agora

A arte conceptual transformou a arte em algo mais do que contemplação, antes no levantamento de questões, que podiam ser a respeito da própria arte. Reagiu contra a acomodação da arte ao pretender uma subversão da galeria ou do museu como local determinado para a arte e contra o mercado da arte como dono e distribuidor da arte. A crise do modernismo e aparição da arte conceptual foi assinalada pelos Quadros Negros de Frank Stella. Estes trabalhos foram defendidos pelo escultor minimalista Donald Judd e pelo crítico modernista Michael Fried, mas por motivos diferentes. Para Fried a obra conseguia uma tradução de uma forma nova que induzia no espectador a convicção do valor estético, para Judd o trabalho tinha atingido um grau de abstracção tal que ditava o fim da pintura. A atitude de Stella visava a passagem para um plano tridimensional e introduzia o minimalismo – desprovido de composição e de trabalho manual. Daqui efectuou-se a aproximação à arte conceptual, com predomínio das ideias. O denominador comum passou a ser a atitude reflexiva do artista e o questionamento do medium, com base nas teorias de Duchamp e na atitude purista de Ad Reinhardt e Yves Klein. Os artistas conceptuais analisaram a abstracção, parodiando-a. Mel Ramsden fez uma tela, em 1968, que tinha sobre um fundo cinzento, a stencil, os números “94%” e “6%”. A mesma tinha o título de 100%Abstracto. Antes, criara Secret Painting – consistia numa obra composta por duas partes, um quadro negro e um texto onde se lia: “O conteúdo desta tela é invisível; o carácter e as dimensões do conteúdo, que só o artista conhece, destinam-se a ser mantidos em permanente sigilo.” A ideia conquistava o seu lugar. O que se começava a constatar era a afirmação de Kosuth, segundo a qual: «as verdadeiras obras de arte são as ideias.» Ocorreu uma tendência para a desmaterialização da obra de arte. A repetição surge na arte conceptual pela ausência de autoria artística artesanal. Como exemplo desta atitude aparece o trabalho de Sol LeWitt – os seus trabalhos são fabricados por assistentes que trabalham de acordo com as instruções dadas pelo artista. No entanto a valorização da ideia não rejeita a componente mística da arte, como podemos ler nos seus Aforismos sobre a Arte Conceptual, de 1969 : « Os artistas conceptuais são mais místicos que racionalistas. Chegam a conclusões que a lógica não consegue alcançar. Os juízos racionais repetem juízos racionais. Os juízos ilógicos levam a novas experiências.» O uso desta estratégia repetitiva tornou-se numa espécie de meditação sobre o Tempo que transpôs continentes – compreensível pela universalidade da temática. Dentro deste tipo inserem-se os trabalhos de On Kawara. Telas pintadas à mão com a data do dia em que foram feitas – Date Paintings, séries com a hora a que se levantou - I Got Up, com as pessoas que conheceu – I Met, telegramas que informam as pessoas da sua existência – I Am Still Alive. A leitura destas obras pode remeter para o campo do sublime, caso sejamos capazes de sentir mentalmente o significado destes trabalhos, pela percepção do carácter limitado da vida humana face ao ilimitado de que pode ser exemplo o Tempo. Do mesmo modo remetem-nos para o banal do quotidiano, ou para uma simples linha de produção. Será melhor dizer: a partir da humildade de uma tradução seriada que representa a nossa ignorância e limitação remetem-nos para o sublime que nos esmaga, porque não o podemos conter/compreender, revelando-se assim infinito e ultrapassando-nos. A arte conceptual encara o Homem como ser pensante, em alguns casos revelando a ausência de necessidade de este perder tempo com a execução do trabalho e devendo-se concentrar na ideia. Para a aproximação deste tipo de arte ao público existe uma grande dependência do texto, ou discurso. As preocupações da arte conceptual são tidas por artistas actuais, ideias de anti-acomodação, crítica social e política, ideias/informação,...É exemplo contemporâneo o grupo liderado por Damien Hirst – Young British Artists, para o qual o objecto criado não é a obra de arte e não precisa de perícia artística para a sua realização. Ao mesmo tempo, surgem atitudes face à arte que revalorizam a pintura, como o Triunfo da Pintura – exposição que se realiza em Londres na galeria Saatchi, anteriormente conhecida por apoiar artistas conceptuais, como Hirst ou Tracey Emin; e a atribuição do prestigiado prémio Turner a uma obra de pintura. Curiosamente, o prémio foi entregue por Yoko Ono. Poderá isto ser interpretado como, mais uma passagem de testemunho, tal como a cedência por parte de DeKooning de um desenho a Rauschenberg para ser apagado? Ou será apenas uma estratégia de divulgação da pintura, por parte dos comerciantes de arte? A. A.